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Barcelona 92: os Jogos dos sonhos


Abertura dos Jogos Olímpicos de Barcelona 1992

Na última terça-feira, 25 de julho, a abertura dos Jogos Olímpicos de Barcelona 1992 completou 25 anos. Barcelona 92 são, provavelmente, os Jogos mais importantes da era moderna, marcados pela participação de todos os comitês olímpicos nacionais existentes àquela época - depois de boicotes e banimentos em algumas edições -, pela profunda transformação da cidade espanhola, o que se tornou um marco histórico em organização de grandes eventos esportivos, pelas conquistas espetaculares dentro de campos, quadras, piscinas e pistas e, para nós, brasileiros, pelo início de uma hegemonia inigualável no vôlei mundial.

Aos 11 anos de idade, vendo, da sala da casa do meu pai, aquela flecha acender a Pira Olímpica - e descobrir, no dia seguinte, que a flecha não caiu na pira, e sim passou direto por ela -, eu não tinha ideia de que aqueles Jogos ficariam marcados para sempre no meu imaginário. E muito menos da importância histórica daquela competição. Foi a primeira vez que um único comitê organizador foi responsável pelos Jogos Olímpicos e também pelos Paralímpicos, que aconteceram logo depois dos Olímpicos e ganharam ainda mais notoriedade com o filme "Carne Trêmula", de Pedro Almódovar, onde o protagonista, interpretado por Javier Bardem, fazia parte da seleção espanhola de Basquetebol em Cadeira de Rodas. Vinte e três anos depois, eu mesma trabalharia num comitê organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos.

Quanto ao aspecto geopolítico, foi a primeira e única vez em que houve a participação da CEI, Comunidade dos Estados Independentes, formada pelos membros recém-independentizados da URSS, com exceção de Estônia, Letônia e Lituânia, que participaram de forma independente. A Alemanha competiu unificada - e ficou em terceiro no quadro de medalhas -, e a Iugoslávia havia acabado de ser desmembrada em Bósnia e Herzegovina, Croácia e Eslovênia. Uma grande salada de frutas geopolítica que ainda não se entendia muito bem à época e que apenas os Jogos Olímpicos são capazes de proporcionar.

Para a Espanha, democratizada há apenas 17 anos e inserida na União Europeia há seis, o evento consolidou sua inclusão no mapa geopolítico mundial, após décadas de isolamento durante o Franquismo. Já no que tange à transformação da cidade-sede, Barcelona é usada até hoje como principal exemplo na candidatura de qualquer cidade para sediar Jogos Olímpicos, Paralímpicos, Copa do Mundo ou qualquer outro grande evento esportivo. Nunca uma cidade soube aproveitar tão bem a realização dos Jogos como a capital catalã. O sistema de transporte e o mapa rodoviário da cidade foram totalmente renovados, assim como alguns bairros, como Montjuic, Raval, El Valle de Hebrón e Poblenou. Novos parques e jardins foram construídos, e praias foram limpas e remodeladas. A região do Porto Velho (Port Vell) foi totalmente reformada e se tornou um dos locais mais bonitos da cidade atualmente. Além disso, diversos edifícios históricos tiveram suas fachadas restauradas e renovadas. Com as transformações, Barcelona se tornou uma das cidades mais visitadas em todo o mundo e levou a Espanha consigo nessa ascensão, fazendo do turismo um setor de extrema importância na economia espanhola.

Nos eventos esportivos, quem não se lembra do Dream Team, com os maiores astros do basquete americano finalmente jogando juntos? Ou do britânico Derek Redmond se contundido na reta final da semifinal dos 400m livres e sendo auxiliado por seu pai para cruzar a linha de chegada? Ou dos seis ouros do bielorusso Vitaly Scherbo na ginástica (sendo quatro no mesmo dia), do ouro da americana Gail Devers nos 100m rasos após superar uma doença que lhe deixou em cadeira das rodas por dois anos, ou de um jovem Pep Guardiola comandando a seleção espanhola que conquistou o ouro no futebol? Foi também em Barcelona 92 que o russo Alexander Popov despontou nas piscinas - e que surgiu sua rivalidade dentro da água, e amizade fora dela, com Gustavo Borges. A saga do nadador brasileiro teve um sabor especial para a torcida que acompanhava pela TV, com a medalha de prata confirmada após eternos 40 minutos.

Pessoalmente, porém, nenhuma emoção de Barcelona 92 supera a do ouro brasileiro no vôlei masculino. Esses foram os primeiros Jogos a que eu assisti inteiramente, ligando a TV todos os dias, acompanhando boxe, judô, basquete, handebol, ginástica, atletismo... Minha família, porém, estava de mudança, com o novo apartamento em fase final de obra, e eu passava cada dia numa casa diferente: vó, pai, tia... A manhã da final do vôlei masculino foi a primeira em que acordei no novo apartamento. A família reunida em frente à TV numa sala recém-montada torcendo por um equipe que não era favorita, mas que viria a ser um dos maiores times de vôlei de todos os tempos. Depois de vencer os Estados Unidos na semifinal, nada mais parecia impossível. E Marcelo Negrão, Giovane, Maurício, Tande & Cia. conquistaram o primeiro ouro olímpico coletivo do Brasil. O primeiro de cinco ouros olímpicos do vôlei brasileiro.

Barcelona 92 são os Jogos-modelo, dentro e fora das arenas, que mostram o porquê de haver Jogos Olímpicos. São os Jogos que entraram para a história mais do que qualquer outro. É uma das edições dos Jogos mais importantes do esporte brasileiro - mesmo que o país só tenha conquistado três medalhas (teve ainda um ouro no judô, com Rogério Sampaio). E, para mim, são os meus Jogos prediletos - depois, é claro, do Rio 2016 - e que tiveram uma importância especial na minha paixão por esportes. Vinte e cinco anos atrás.

Créditos: olympic.org e Arquivo/Agência O Globo

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