A Alemanha conquistou dois títulos em apenas 48 horas. Dois títulos praticamente apenas com jogadores jovens - sendo que a Copa das Confederações não é uma competição de base. Dois títulos incontestáveis e sem ser ameaçada em quase nenhum momento. E mostrou que o trabalho de formação desenvolvido no país e que já rendeu um título mundial à seleção alemã segue de vento em popa e deve manter a Nationalmannschaft no topo por muitos anos mais.
Na última sexta-feira a seleção alemã sub-21 conquistou o Campeonato Europeu da categoria derrotando a favorita Espanha por 1 a 0 na final em Cracóvia. No domingo seguinte, o time "principal" levou a Copa das Confederações ao bater o Chile pelo mesmo placar em São Petersburgo. Para a Rússia, o técnico Joachim Löw levou um time quase que inteiramente formado por jovens e/ou jogadores que ainda não tinham tido muitas chances na equipe principal. A iniciativa fez com que o elenco que disputou o Europeu Sub-21 na Croácia também fosse uma espécie de equipe B, já que o melhores talentos jovens alemães estavam no torneio da Fifa. Ou seja: a Alemanha acaba de conquistar dois títulos com times B.
Quem conhece o futebol além das quatro linhas, sabe que a proliferação recente de jogadores talentosos na Alemanha não é fruto do acaso, e sim de um trabalho de base, longo prazo e muito bem feito pela Federação Alemã (DFB) desde 2000, após o vexame da eliminação na primeira fase da Eurocopa, com apenas um ponto conquistado. Um trabalho parcialmente inspirado no feito pela Federação Francesa (FFF) e que faz com que o time vice-campeão europeu em 2016 também seja um dos favoritos a conquistar a Copa 2018. A quem se interessar pelo tema, recomendo a leitura dos livros "The Bundesliga Blueprint: How Germany Became the Home of Football", de Lee Price, ainda sem tradução para o português, e "Gol da Alemanha", de Axel Torres e André Schön, publicado pela editora Grande Área.
Foi esse trabalho que revelou e moldou jogadores como Philipp Lahm, Bastian Schweinsteiger e Lukas Podolski numa primeira geração, Thomas Müller, Toni Kroos, Mesut Özil, Manuel Neuer, Mats Hummels, Jerome Boateng, Marco Reus e Sami Khedira numa segunda geração e, mais recentemente, Mario Götze, Julian Draxler, Joshua Kimmich, Marc-André Ter Stegen, Leroy Sané, Timo Werner, Leon Goretzka, Julian Brandt e Lars Stindl, para mencionar apenas "alguns" nomes.
É também esse trabalho que fez da Bundesliga a segunda liga nacional mais valiosa (em termos de valores pagos pelos direitos de transmissão) do mundo, atrás apenas da Premier League inglesa. O Campeonato Alemão é ainda o de menor média de idade entre os principais da Europa (25 anos, contra 25,4 do Francês; 25,6 do Português; 25,8 do Italiano; 26,7 do Inglês; e 26,8 do Espanhol) e, ao menos para mim, o mais atraente e de jogos mais rápidos e dinâmicos. Ou seja: o trabalho feito pela DFB com as categorias de base dos clubes das Primeira e Segunda Divisões na Alemanha reflete diretamente na liga doméstica, que ganha em atratividade e competitividade - mesmo que o Bayern ainda seja dominante.
No que tange à seleção principal, a constantemente renovada Nationalmannschaft é novamente favorita ao título mundial ano que vem. E, além de exibir um futebol tático e organizado que sempre lhe foi característico, a equipe alemã segue desfilando talento e criatividade, que antes remetiam principalmente à seleção brasileira - isso desde pelo menos 2010, quando a seleção que terminou o Mundial na terceira colocação tinha a quarta média de idade mais baixa entre as 32 do torneio (25 anos, atrás somente de Gana, Coreia do Norte e Camarões); em 2014, a equipe alemã foi campeã com a sexta média de idade mais baixa da Copa, 25,8.
O futebol deixou de ser um jogo de 11 contra 11 onde a Alemanha sempre vence para se tornar um jogo de 11 contra 11 onde a Alemanha sempre encanta.
Crédito: fifa.com/Getty Images