Faltando praticamente ainda dois meses para o fechamento da janela de transferências, o Manchester City é o quarto time europeu que mais gastou até o momento. Foram 87 milhões de euros, que colocam a equipe inglesa atrás apenas de Milan (100 milhões de euros), Everton (95 milhões) e Bayern de Munique (87,5 milhões) na lista de transferências. Somando a esse valor os 213 milhões gastos nas duas janelas da temporada 2016/2017 - que fizeram do City o time que mais gastou em compras de jogadores à época -, Pep Guardiola já desembolsou mais de 300 milhões de euros para montar seu time. Até 31 de agosto o clube do xeque Mansour é sério candidato a ser novamente este ano o time europeu que mais investiu no elenco - Mendy (Monaco), Kyle Walker (Tottenham), Dembele (Dortmund), Van Dijk (Southampton), Bonucci (Juventus) e Alexis Sánchez (Arsenal) ou Aubameyang (Dortmund) ainda podem chegar, além de Daniel Alves, liberado pela Juventus.
Além, obviamente, dos bilhões em caixa e do objetivo de finalmente entrar para o panteão dos melhores times do mundo - e dos campeões da Champions -, esse investimento todo tem um motivo bem claro: pela primeira vez desde que se tornou técnico, Guardiola está montando um time. Em seu quarto trabalho como treinador, depois de passar pelo Barcelona B, pelo time principal do Barça e pelo Bayern, Pep está numa situação bastante diferente das em que se encontrou nos outros clubes onde trabalhou. Além de ter total liberdade nas contratações - sendo ele quem escolhe o jogador, sem interferência da diretoria e sem limite de preço -, coisa que não aconteceu nem na Catalunha nem em Munique, Pep está começando um trabalho praticamente do zero, em se considerando que muitos dos "galácticos" que o City contratou após a compra pelo grupo árabe Abu Dhabi United Group, em 2008, já deixaram ou estão em vias de deixar o clube.
Leroy Sané (20 anos), John Stones (20), Gabriel Jesus (19), Ilkay Gündongan (25), Bernardo Silva (22) e Ederson (23) fazem parte de um processo de renovação e, por que não, construção do time. O Manchester City é uma equipe tradicional da Inglaterra, mas nunca teve muita projeção nem mesmo no Reino Unido, quanto mais na Europa. E aí entra a outra grande diferença do City para os outros dois clubes onde trabalhou Guardiola e mais uma parte essencial do trabalho do técnico em Manchester: não tem uma identidade formada, muito menos uma filosofia. Pep não foi contratado apenas para montar um grande time, mas também para criar uma filosofia de jogo, como têm, por exemplo, Bayern e Barcelona, além do Ajax - sendo que os dois últimos tiveram sua filosofia criada por Johan Cruyff, mentor de Guardiola.
No Barcelona e no Ajax, o menino que entra nas categorias de base do clube aos 10 anos de idade ou até menos já aprende desde cedo qual é o estilo de jogo do time e os valores do clube, que seguem sendo ensinados e praticados até a equipe principal, o que facilita o aproveitamento de jogadores da base no time profissional. Cruyff morreu há um ano e deixara de trabalhar diretamente com futebol profissional 20 anos antes, mas mesmo assim seus ensinamentos seguem regendo o futebol e a gestão de ambos os clubes. Já no Bayern, a filosofia bávara teve início no fim dos anos de 1960, início dos anos de 1970, também com o aproveitamento de jogadores da base e a prática de um jogo ofensivo.
No Manchester City, por outro lado, a maior tradição do clube diz respeito à rivalidade local com o Manchester United. O City nunca teve um estilo de jogo próprio, oscilou entre a Primeira e a Segunda Divisão por quase toda sua história e chegou a disputar a Terceirona inglesa em 1998/99, voltando em definitivo à Premier League apenas em 2002. Antes da compra pelo grupo árabe, o clube só havia conquistado dois títulos do Campeonato Inglês, em 1936/37 e 1967/68. Isso tudo sem nenhum plantel histórico ou marcante, muito menos uma filosofia de jogo. Desde que se tornou bilionário, teve quatro técnicos diferentes antes da chegada de Guardiola, nenhum deles conhecido por um trabalho de verdadeiro destaque numa grande equipe ou por uma importante inovação tática.
Guardiola assinou por três anos com o Manchester City, e logo no primeiro já teve dificuldade para classificar a equipe para a Champions (da qual foi eliminado nas oitavas de final após dois incríveis jogos com o Monaco) - a Premier League não tem a disparidade técnica da Liga Espanhola ou da Bundesliga. Pode-se dizer que foi uma temporada de teste. O verdadeiro trabalho de Pep no City ainda está começando, e o pouco tempo que o treinador catalão costuma passar nos clubes deve ser insuficiente para concluir com êxito seu verdadeiro objetivo: construir um novo Manchester City.
Crédito: facebook Manchester City