Uma Copa do Mundo sem a Itália. Uma Copa do Mundo sem Buffon, De Rossi, Bonucci, Verratti. Uma Copa do Mundo sem a segunda seleção mais bem-sucedida da história, tetracampeã. Uma Copa do Mundo com a Suíça, campeã mundial de 0 a 0s, mas sem a Itália.
Em se levando em conta o futebol apresentado pela Itália nas últimas Copas, a Azzurra não fará nenhuma falta na Rússia em 2018. Mas futebol é tradição, e tradição a Itália tem de sobra. Acontece que tradição não ganha título, não vence partida, não marca gol - apesar de normalmente ter uma certa preferência dos árbitros - e não classifica à Copa do Mundo.
Já em 2006, quando a Itália foi tetracampeã mundial, a equipe jogou bem apenas 30 minutos em toda a Copa - a prorrogação contra a Alemanha, dois dias após um promotor italiano denunciar alguns dos principais clubes do país por corrupção e armação de resultado. O gol que valeu a suada classificação às quartas de final em cima da Austrália, por exemplo, veio de um pênalti para lá de duvidoso em Totti. E o título se deu numa disputa de pênaltis sem Zidane.
No mundial anterior, a Azzurra já havia decepcionado. Se classificou à segunda fase atrás do México e com apenas uma vitória em três jogos, contra o fraco Equador. Nas oitavas, eliminação contra a anfitriã Coreia do Sul, campeã de ajuda da arbitragem naquele torneio. Em 2010, a então campeã foi pior ainda: não passou da primeira fase. Foi eliminada em último lugar de seu grupo, atrás de Paraguai, Eslováquia e até da Nova Zelândia, sem uma vitória sequer.
No entanto, a Euro 2012 pareceu trazer novos ares à seleção italiana. Balotelli em sua melhor fase brilhou muito contra a favorita Alemanha na semifinal, marcando os dois gols da classificação à decisão contra a Espanha. A Itália contava ainda com Pirlo em seu auge, mas depois do brilho isolado na semi, foi goleada pela Espanha com facilidade na final.
Novos ares? Ledo engano. No Mundial seguinte, novo vexame: vitória contra a Inglaterra, mas derrotas contra Costa Rica e Uruguai, e pela segunda vez consecutiva a Azzurra ficava fora da fase final da Copa. Nesse ínterim, a Itália ainda foi superada pela Alemanha no ranking da Uefa e perdeu uma vaga na Liga dos Campeões, viu seus principais times virarem coadjuvantes no cenário internacional - exceção feita à Juventus, que, mesmo tendo chegado a duas finais de Champions em três anos, não foi páreo para Barcelona ou Real Madrid - e tem seus estádios cada vez mais vazios.
A crise no futebol italiano tem muito a ver com gestão. Os clubes não conseguem faturar como seus principais concorrentes no continente Europeu e, em sua maioria, não têm estádios próprios, o que é uma grande fonte de receita. Perdendo poder aquisitivo, as instituições perdem também atratividade e, nos últimos anos, Pogba, Ibrahimovic, Thiago Silva, Cavani, Vidal, Marquinhos, Kovacic, Lavezzi, Pastore e Alexis Sánchez, além de Kaká no seu auge, deixaram a Bota rumo a clubes de outras ligas europeias. As grandes contratações recentes italianas foram, em geral, feitas pela Juventus, enfraquecendo seus rivais no Calcio. O campeonato ficou mais fraco, e a média de público nos estádios só cai, num círculo vicioso de decadência da que foi, nos anos 80, a maior liga do mundo.
É claro que a crise econômica de 2007 também teve muito a ver com esse declínio, assim como o escândalo de manipulação de resultados de 2006, mas a Juventus soube se reinventar após ser rebaixada e perder dois títulos, enquanto os outros clubes acharam que iriam crescer apenas com a ausência da maior campeã italiana e não mexeram um euro para se modernizarem ou se manterem no nível dos gigantes espanhóis ou dos bilionários da Premier League. E, ainda por cima, o renascimento da Juve só fez aumentar a disparidade técnica na Itália e enfraquecer ainda mais os outros times.
Nesse cenário, não é de se espantar que a seleção também vá de mal a pior. Quem cresceu ouvindo sobre Paolo Rossi em 1982, assistindo ao Milan de Arrigo Sacchi e admirando Paolo Maldini, Franco Baresi, Roberto Baggio e Francesco Totti nunca imaginou um dia uma Copa sem a Itália.
Em tempo: a eliminação da Itália, que contou pela primeira vez com o meio-campista brasileiro do origem italiana Jorginho como titular, eliminou também a possibilidade de o talentoso jogador do Napoli vestir a amarelinha. Um dos melhores volantes da atualidade, Jorginho é provavelmente o melhor jogador na Itália neste início de temporada. Foi preterido por Tite, mas não por Giampiero Ventura, e agora é mais um talento que o Brasil não soube aproveitar - provavelmente porque acha que já tem talento de mais -, como foi o caso de Diego Costa, Thiago Alcântara, Thiago Motta, Deco ou Marcos Senna. Mais uma derrota nesta noite de segunda-feira.
Crédito: facebook Euopean Qualifiers