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Áustria x Alemanha: rivalidade, chuva, granizo e fim de jejum


Eu já enfrentei calor de mais de 40 graus, temporal, frio de bater o queixo e até neve em estádio de futebol. Mas tempestade de granizo foi a primeira vez. No entanto, os fortes ventos carregados de muita chuva e pedras de granizo que adiaram por uma hora e 45 minutos o amistoso entre Áustria e Alemanha em Klagenfurt não foram capazes de espantar os quase 30 mil torcedores que compareceram ao Wörtherseestadion sábado. E quem disse que austríaco não gosta de futebol não contava com a exceção à regra: quando Das Team enfrenta o maior rival.

Quando saí de casa rumo ao estádio, que fica a 7 minutos de bicicleta de onde eu moro, o céu já dava indícios de que o temporal diário primaveril estava a caminho. Há cerca de um mês e meio chove praticamente todo fim de tarde em Klagenfurt, lembrando as típicas chuvas de verão cariocas. A tempestade de sábado, porém, ultrapassou qualquer expectativa. Ainda a caminho do estádio, pedras de granizo de até 2cm de diâmetro começaram a cair, acertando a mim e uma multidão de camisa vermelha que viera de vários lugares do país para apoiar a seleção da casa contra os campeões mundiais.

À entrada do Wörtherseestadion eu já havia desistido de tentar manter qualquer parte do corpo seca: a chuva era extremamente intensa, com ventos fortes vindo de todas as direções possíveis. Era difícil até enxergar as pessoas à frente, tanto que os seguranças na entrada da arena já nem revistavam os torcedores ou mesmo checavam os ingressos – ainda no primeiro tempo o telão anunciou a presença de 29.700 espectadores, mas não sei se o número incluía os que chegaram junto comigo e passaram correndo pela entrada.

Torcedores fogem da chuva no estádio

Uma vez lá dentro eu poderia me proteger da chuva até secar, certo? Errado. Os torcedores que chegaram com antecedência tentavam fugir do temporal abrigando-se sob o anel superior, mas o vento levava a chuva a todos. Na arquibancada, a cobertura sobre a quase totalidade de assentos era inútil. Nos setores mais perto do gramado, teto e nada eram a mesma coisa, enquanto na área mais alta a cobertura funcionava apenas como uma peneira: a chuva seguia caindo, apenas mais fina, seja por frestas dos módulos do teto ou pelas laterais.

O tormento durou mais de duas horas e meia – em se considerando que saí de casa com uma hora de antecedência. A cada 30 ou 40 minutos um repórter aparecia no telão informando que o início da partida seria adiado, à espera de que o temporal passasse. Quando os árbitros entraram em campo pela segunda vez para checar as condições do gramado era 19:15, os jogadores aqueceram em campo pela terceira vez, e a partida finalmente começou às 19:45.

Torcida lotou o Wörtherseestadion

A essa altura o estádio estava praticamente cheio – a capacidade é de 32 mil, e, à exceção de alguns assentos na área reservada para a torcida adversária, viam-se pouquíssimos lugares vazios. O torcedor austríaco não quis perder a oportunidade de empurrar o seu time contra o maior rival. Vai que a Áustria vence, não é mesmo?

O primeiro tempo não deu indícios de que o jogo valeria o sofrimento passado pelos que lá estavam para assistir ao jogo. A seleção austríacas tentava, sem êxito, pressionar a Alemanha, que ameaçou o gol de Siebenhandl algumas vezes, mas sem muito perigo. Quando com a bola, o time da casa se mostrava afobado e errava o último passe. Afobado também estava Siebenhandl, que numa saída de bola equivocada deixou Özil na cara do gol: 1 a 0 para a Alemanha e mais um erro bobo de um arqueiro de língua alemã neste fim de temporada, dando continuidade à moda lançada por Ulreich e Karius na Liga dos Campeões.

A etapa final, porém, foi totalmente distinta. A Áustria voltou a campo determinada a empatar a partida e passou a pressionar a Alemanha no seu campo de defesa. Após um ano inteiro parado Neuer mostrou que ainda está em forma debaixo do travessão, mas uma das especialidades do goleiro do Bayern, a saída de bola com os pés, deixou a desejar: o arqueiro errou praticamente todas as bolas longas que lançou, e a equipe austríaca partia para cima dele sempre que recuperava a posse. A Nationalmannschaft começou a fraquejar, e a pressão dos mandantes deu resultado.

Comandada por Grillitsch, talentoso meia do Hoffenheim que voltou do intervalo jogando mais adiantado, a Áustria empatou com Hinteregger, finalizando de primeiro após escanteio cobrado por Alaba, e não se deu por satisfeita: Schopf virou o marcador, para delírio da torcida em Klagenfurt. A Alemanha, que passou os primeiros 25 minutos da etapa final acuada, finalmente acordou, mas já era tarde. Os últimos cinco minutos de partida viram o Wörtherseestadion inteiro de pé cantando “immer wieder Österreich” (sempre Áustria) até o apito final consagrar a primeira vitória austríaca sobre o maior rival em 32 anos – desde 1986 foram nove derrotas e um empate diante da seleção alemã.

Vale a pena ressaltar ainda a paixão dos austríacos por Marko Arnautovic, centroavante grandalhão e raçudo do West Ham que parece ter a preferência da torcida local, mesmo que David Alaba estampe quase todas as campanhas publicitárias nas ruas do país, e a implicância da torcida local por Gündogan. O meia do Manchester City posou recentemente com o polêmico presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e incitou a ira de muitos, o que foi o provável motivo das incansáveis vaias ao jogador cada vez que ele tocava na bola – mesmo que Özil, que também esteve na foto com o mandatário, não tenha sido vaiado pela torcida.

À Alemanha resta trabalhar alternativas para fugir à marcação adiantada, já que uma seleção que nem se classificou para a Copa teve sucesso explorando esse calcanhar de Aquiles da campeã mundial. Enquanto isso, a torcida austríaca, que não torcerá pela sua equipe no Mundial, deve passar o verão aproveitando os belíssimos lagos do país – com o devido cuidado de chegar em casa antes da chuva de granizo do fim da tarde.

Créditos: Facebook Das Nationalteam, Facebook Hurricanes Österreich, Facebook DFB-Team (Die Mannschaft) e arquivo pessoal

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