São muitas as considerações a fazer sobre a final da Champions do último sábado, mas a reta final do semestre de um mestrado na Áustria não me permitiu escrever antes. A primeira delas diz respeito a um dos grandes personagens daquela partida, que quase ficou em segundo plano devido à lesão de Salah e às falhas de Karius: Gareth Bale.
Não dá pra falar de Bale sem fazer uma rápida retrospectiva da carreira do galês. O camisa 11 do Real Madrid começou no Southampton como lateral-esquerdo e no Tottenham ainda jogou na posição, mesmo que fosse ganhando características cada vez mais ofensivas. Bale ganhou notoriedade quando os Spurs enfrentaram a então campeã Inter de Milão na Champions em 2010/11. Na partida de ida, no Giuseppe Meazza, o ainda lateral fez seu primeiro hat-trick como profissional e quase empatou o jogo que a Inter goleava por 4 a 0. Um colega de redação começou sua crônica com a frase “Bale é um monstro”, e o galês se tornou um dos principais jogadores da atualidade.
Apesar de ter sofrido – e ainda sofrer – com lesões, Bale foi aprimorando seu jogo e seu físico, tornou-se ponta esquerda e foi para o Real Madrid como o jogador mais caro do mundo. Na Espanha o britânico passou a atuar também na ponta direita, formou com Benzema e Cristiano Ronaldo o trio BBC e, em cinco temporadas, alternou momentos espetaculares – como a arrancada e o golaço que garantiram aos Merengues a vitória sobre o Barcelona e o título da Copa do Rei em 2014 – com atuações apagadas e muitas passagens pelo departamento médico.
A imprensa espanhola dá conta ainda de que, tímido e com dificuldade inicial para aprender o espanhol, Bale não é o mais sociável dos jogadores do Real. Desde a chegada de Zidane, o ponta perdeu espaço. Durante algumas estadias na fisioterapia foi substituído por um Isco em excelente fase e perdeu a preferência entre os titulares.
Desde o verão europeu passado, o Real Madrid vem tentando descobrir o que fazer com Bale: o astro contratado a peso de ouro nunca deu o retorno esperado no que tange ao marketing – é infinitamente menos midiático que Cristiano e boa parte de seus colegas –, e o retorno em campo parece não ser proporcional ao investimento, principalmente depois que ele passou a ocupar o banco. No entanto, não são muitos os clubes que poderiam arcar com os valores que o Real exigiria para se desfazer do jogador.
O panorama mudou depois do último sábado. Após fazer dois gols na final do tricampeonato europeu, um deles uma verdadeira pintura que talvez desbanque o de Zidane do posto de tento mais lindo das finais da Champions, o galês mostrou que não pode continuar no banco, nem mesmo como 12o titular. E as declarações sobre seu futuro dadas após a partida dão conta de que, se não for pra ser titular, Bale prefere fazer as malas. No entanto, o Real já cometeu recentemente o erro de se desfazer do melhor da temporada após um título europeu, e vender o jogador que marcou dois gols na final do tricampeonato, um deles de bicicleta, é um equívoco que gestor esportivo nenhum gostaria de fazer.
O Manchester United, que ano após ano gasta muitos milhões no mercado de transferências e continua não assustando ninguém em campo, seria o provável destino do galês. Há, entretanto, a possibilidade de Cristiano ter feito sábado seu último jogo como Merengue – assim como Bale, as declarações de Ronaldo após a partida dão conta de uma possível saída –, e o Real não só não poderia se desfazer de seus dois maiores astros de uma só vez, como a ausência do português abriria espaço para Bale entre os titulares. Seja como for, o Real Madrid seguirá tendo elenco e qualidade para chegar à quarta final de Champions consecutiva na próxima temporada, só não deve é repetir a mesma escalação, como fez em 2017 e 2018, mais uma vez.
Crédito: Antonio Villalba e Helios de la Rubia/realmadrid.com